Crítica de Cinema – Texto publicado originalmente em A ARCA, em 02/02/2006.
Atenção para esta história real: um belo dia, alguém cometeu a desastrosa burrada de dizer a um indivíduo chamado Martin Lawrence que ele é engraçado. O pior é que o cara realmente acreditou nisso, e inventou de querer fazer filmes. Assim, o pseudo-humorista apareceu num popularíssimo programa de TV chamado Saturday Night Live e partiu para sua “carreira cinematográfica”. Com a sorte de ver seus “filmes” gerando uma graninha legal, Lawrence encheu-se de confiança e, dominado pelo sentimento “mamãe-quero-ser-Eddie-Murphy”, baseou-se no trágico remake de O Professor Aloprado para protagonizar uma das piores comédias que já assombraram os cinemas. Vovó Zona. História assombrosa, não? Credo.
Seis anos depois da estréia desta tentativa de comédia – que rendeu inexplicáveis US$ 200 milhões só nos EUA -, o conto de horror descrito acima ganha mais um capítulo. Pelo amor de Deus, e alguém aí ainda acreditava que poderia sair algo bom do tenebroso Vovó Zona 2 (Big Momma’s House 2, 2006)? Sério, por mais que eu tente, não consigo encontrar uma justificativa sequer para a existência disto, além de querer arrancar dinheiro dos espectadores desavisados. O pior é que a platéia ianque está adorando. Bah, eles veneram Julia-Chata-Roberts e as “músicas” da Beyoncé Knowles. Não são confiáveis.
Até aí, tudo bem. Todo mundo já sabia que uma continuação de Vovó Zona jamais poderia ser boa. O fato é que Vovó Zona 2 não é apenas um filme ruim. É uma produção APAVORANTE, no pior sentido da palavra, daquelas de fazer qualquer um querer cometer atos horrorosos contra sua própria vida. O longa, dirigido por um certo John P. Whitesell (”cineasta” responsável também por Spot – Um Cão da Pesada), tenta ser engraçado, tenta emocionar e tenta passar uma mensagem edificante ao seu final. Não atinge NENHUM destes objetivos: não tem graça alguma! Não possui uma única piada que preste! Não tem um roteiro coerente! Suas cenas “emotivas” causam enorme constrangimento de tão ridículas que são! Os atores são simplesmente HORRÍVEIS! E pra mim, a única mensagem que esta bomba atômica consegue passar com exatidão é: Martin Lawrence merece ser EXPULSO do planeta. E o cara ainda recebe um salário de 20 milhões de dólares por filme. Vai entender.
A “trama” deste filme (oi?) traz o agente federal Malcolm Turner (Lawrence) em mais um problema. Depois dos eventos do primeiro longa, Turner casou com Sherry (Nia Long), engravidou sua esposa e, com isto, desistiu de seguir carreira como agente, preferindo a segurança de uma mesa no escritório do FBI e uns bicos como “águia” em teatrinhos de escola (?). Só que o cara descobre que alguma mente sórdida encomendou um vírus de computador capaz de desabilitar todo o sistema de segurança dos arquivos secretos do governo. E a única forma de descobrir a identidade do “solicitante” é infiltrar-se como babá-empregada na casa de Tom Fuller (Mark Moses), o homem incumbido de criar o vírus. E então, lá vai Turner voltar à ativa com seu disfarce preferido, a tal da Hattie Mae Pierce, mais conhecida como Vovozona. Cruzes!
A partir daí, o roteiro (pfff…) de Don Rhymer – por sinal, o mesmo meliante que gerou o script da primeira película – desgasta ainda mais todos os batidíssimos clichês de filmes para a família com babás-desajustadas-e-relutantes-que-conquista-os-filhos-do-patrão-aos-poucos (o exemplar mais recente é Operação Babá). Senão, vejam só: tem a filha mais velha, adolescente revoltadinha que entra em conflito com a Vovozona e depois aprende a gostar dela; a filha do meio, criança de seus 10 anos que quer ser cheerleader e conta com a ajuda da “babá” para aprender a dançar; e o filhinho mais novo, que tem a mania de escalar qualquer coisa alta e se atirar de cima (?) e não fala uma única palavra (e adivinhem qual será a primeira palavra dele? Quem disse “Vovozona” acertou… ugh!). E olhe que nem cheguei na parte do “animal de estimação bizarro”. Todo filme do gênero tem um animalzinho bizarro, e este não é exceção.
Bem, até dá pra entender por qual razão o moleque se atira de tudo quanto é lugar. Se já tive vontade de fazer o mesmo só de assistir a quinze minutos desta coisa, imagino se fizesse parte do elenco…
Voltando, e dá-lhe piadas totalmente idiotas do agente vestido de Vovozona nas situações mais esdrúxulas possíveis, como a pavorosa seqüência do day-spa para mulheres (como é possível ninguém notar, nem mesmo a massagista, que a “pele” da mulher é pura ESPUMA?); a conclusão da parte “policial” da história, lotada de furos e praticamente idêntica a todos os longas-metragens similares; e o show da Vovozona no concurso de cheerleaders (sim, esta seqüência infelizmente existe). A única parte que traz um elemento potencialmente engraçado, a seqüência em que Martin Lawrence satiriza a clássica “corridinha” de Bo Derek na praia em Mulher Nota 10, ao final não causa um sorriso amarelo sequer. E a última cena, a cena da carta… sacarina pura! Se você for louco o suficiente para querer conferir ISTO, ao menos tome cuidado com a diabetes. Incrível como uma suposta comédia com quase uma hora e 45 minutos de duração não consegue arrancar uma única gargalhada do espectador.
No entanto, devo dizer que seria errado atribuir todos os, ahn, “méritos” de Vovó Zona 2 a Martin Lawrence. Sim, ele é um péssimo comediante, e fica pior ainda quando tenta atuar a sério. Acho que todos nós concordamos neste ponto, certo? Mas aqui, ele está mais do que “bem acompanhado”: à exceção do filhinho mais novo da família Fuller, engraçadinho e só, nenhum dos atores coadjuvantes têm carisma suficiente para conquistar a platéia. Aliás, repare na “cena de choro” da inexpressiva menina Chloe Moretz (uma já veterana pagadora de micos, visto que deu as caras no broxante Horror em Amityville). É de dar pena. O pior de todos, a meu ver, é mesmo Mark Moses, de Desperate Housewives, como o chefe da casa. Céus, como os executivos da Fox não demitiram este cara ainda no seu primeiro dia de trabalho?
Mas então, não há NADA que se salve nisto? Não, não há. Vovó Zona 2 é exatamente o longa-metragem terrivelmente ruim, constrangedor e sem-graça que todos nós prevemos. Mas o que poderíamos esperar, se o primeiro filme já era um lixo total? Enfim, fazer o quê? Pior é saber que ainda seremos muito assombrados por troços deste tipo, já que o público médio parece gostar de sofrer e dá uma bilheteria ferrada para filmes assim. O jeito é fugir dos cinemas até uma boa alma qualquer decidir tirar esta coisa de cartaz. Que seja logo, por favor.
E por falar em “assombrar”, atenção para esta história real: um belo dia, alguém cometeu a desastrosa burrada de dizer a um indivíduo apelidado Zarko que ele tem certo talento com a escrita. O pior é que o cara realmente acreditou nisso, e inventou de querer trabalhar com jornalismo e cultura pop. Assim, o sujeito arrumou um emprego num certo website, e então…
CURIOSIDADES:
• A maquiagem de Martin Lawrence levava exatamente uma hora e 45 minutos para ficar pronta.
• Poucos sabem, mas Martin Lawrence é… alemão. Sério! Ele nasceu em Frankfurt, Alemanha, em 16 de Abril de 1965.
• Em agosto de 1996, Lawrence foi preso por desfilar por um aeroporto dos EUA com uma arma carregada na bolsa. Em março de 1997, ganhou sua segunda prisão por ter esmurrado um homem numa boate sem motivo aparente. Por isto, foi condenado a prestar serviços à comunidade. Suas palavras sobre os incidentes: “Ninguém está imune às turbulências da vida”… E o povo ainda paga pra ver os pseudo-filmes deste elemento…
BIG MOMMA’S HOUSE 2 • EUA • 2006
Direção de John P. Whitesell • Roteiro de Don Rhymer
Elenco: Martin Lawrence, Nia Long, Emily Procter, Zachary Levy, Mark Moses.
99 min. • Distribuição: 20th Century Fox.
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