O que há de tão especial nos filmes da Pixar, e o elemento essencial para situar o estúdio como a potência máxima da animação computadorizada, é o alcance dos roteiros – que não satisfeitos em encantar as crianças, também ganham os adultos com tramas mais sérias, piadas sutis, e referências a uma época que já se foi. Considerando que muitos dos concorrentes começaram a se espelhar no que a Pixar faz, é uma verdadeira raridade animações como “Tá Chovendo Hambúrguer”, da Sony, já em cartaz nos cinemas brasileiros na tecnologia 3D. Este é um filme inegavelmente infantil, sem mais. Acontece que o mundo mudou, a vida deu voltas, o cinema evoluiu (mais ou menos) e eis que chegamos ao estágio em que não basta para um desenho entreter apenas os pequenos. Aliás, as próprias crianças estão cada vez mais espertas e exigentes. Hoje em dia, animação boa é aquela com atrativos para todos os públicos. Este exemplar, portanto, nada mais é que uma diversão leve, passageira, esquecível e frustrante.
Apesar dos pesares, também é um desenho ciente de suas ambições. Não foi feito para ganhar Oscar ou para entrar no Hall da Fama do gênero. Creio que a única preocupação dos produtores era evitar um desastre nas bilheterias – pelas quais o filme vai passando muito bem, obrigado, depois de estrear no topo nos Estados Unidos (até porque foi feito para ser visto na tela gigante do IMAX, a dita “experiência definitiva” do Cinema – foi inclusive na única sala IMAX de São Paulo que assisti ao filme). Baseado no livro honônimo de Judith Barrett (famoso por lá e desconhecido por aqui), “Tá Chovendo Hambúrguer” trata de um cientista biruta e genial, que cresceu isolado porque as crianças de sua idade tiravam sarro de suas invenções excêntricas. Só que acaba ganhando o respeito e a consideração de todos quando inventa uma máquina capaz de transformar água em comida! Por acidente, a geringonça vai parar no espaço, e faz chover todo tipo de guloseimas na ilha onde eles vivem (cuja tradição até então era a de exportar sardinhas!). Uma metereologista que cobre esse milagre vai ficando por lá e se aproximando do herói, com quem tem em comum o passado nerd e solitário. Mas o prefeito do lugar vê essas chuvas de comida como uma forma de atrair turistas – e os próprios habitantes vão ficando cada vez mais gulosos e insanos. Apenas o pai do protagonista (a mãe só aparece no comecinho, e morre em algum ponto entre a passagem dos anos) parece notar que aquilo não vai acabar bem. E quando a máquina pifa por ser sobrecarregada, sai de baixo! Dá-lhe furacão em forma de macarrão e frangos assados agindo por vontade própria!
A premissa engraçadinha, porém, não compensa a preguiça do roteiro (escrito pela mesma dupla responsável pela direção, Chris Miller e Phil Lord) ou a qualidade da animação. As tiradas cômicas resultam ingênuas, previsíveis e sem graça. E em termos técnicos também passam longe do excepcional. É bem-feitinho, claro, mas pobre frente ao que oferece a Pixar, a PDI ou a Blue Sky. Quando fica evidente o atraso tecnológico do estúdio o público mais atento tem dificuldades em mergulhar na história, porque nota a todo instante a engrenagem por trás daquilo. Por outro lado, quem acha que o 3D tem que se render a todos os truques a que tem direito – ou seja, aos objetos que avançam em direção à plateia -, vai se deliciar com “Tá Chovendo Hambúrguer”, onde isso é explorado do começo ao fim. Se for acompanhado de uma criança bem, mas bem pequena, a assistida até vale a pena.
.:. Tá Chovendo Hambúrguer (Cloudy with a Chance of Meatballs, 2009, dirigido por Chris Miller e Phil Lord). Cotação: D+
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