O título deste post é uma das falas proferidas pelo personagem de Brad Pitt em “Bastardos Inglórios”, o novo longa de Quentin Tarantino que chegou aos cinemas brasileiros na última Sexta-feira. Para alguns, esse exibicionismo não passa de projeção do diretor e roteirista – um cinéfilo com experiência de balconista de locadora que acabou se revelando, no início dos anos 90, uma das mentes mais geniais, criativas e irreverentes do ramo. O fato é que Tarantino embarcou no mito que criaram em volta dele. É egocêntrico, arrogante, eloquente, alguém que eu não faria a menor questão de conhecer. Mas também é um sujeito que justifica todo o auê causado por sua persona. Se eu fizesse filmaços como este aqui, quem garante que também não me acharia a última bolacha do pacote? Não à toa, “Bastardos Inglórios” já é tomado por muitos como o seu melhor trabalho até então. Eu mesmo o coloco ombro a ombro com “Pulp Fiction”, e não creio estar atestando isso sob efeito de empolgação momentânea. Nem o excesso de expectativa (sempre desvantajoso, pois nos faz tomar o filme pelo que esperamos dele e não pelo que realmente é) arruinou a experiência.
Trata-se de uma trama fantasiosa, com opções nada convencionais que situam, desde o princípio, os ocorridos numa realidade alternativa (por exemplo, a transição de um idioma para outro em determinadas conversas). Tudo isso em cima de um tema espinhoso, que deixou feridas ainda não cicatrizadas e que é, até hoje, tratado com enorme cautela pelo Cinema: o término da Segunda Guerra Mundial e a queda do nazismo. Lembrem-se de que há quem se ofenda com as gracinhas de “A Vida É Bela”, que apenas carameliza com desvelo o que aquela merda toda deve ter sido. Imagine então como o uso desenfreado do humor negro poderá chocar. É compreensível, portanto, que o filme tenha sido recebido com frieza no Festival de Cannes – de onde apenas o austríaco Christoph Waltz, que interpreta o cabuloso Coronel Hans Landa (também conhecido como O Caçador de Judeus), saiu inatacado, levando consigo o prêmio de Melhor Ator. Felizmente, o público tem embarcado na proposta e reservado a “Bastardos Inglórios” uma melhor acolhida.
Dentre as soluções encontradas por Tarantino para dar cabo do Terceiro Reich alemão está uma organização ianque – os Bastardos do título – que perambula pela Europa exterminando os anti-semitas que cruzarem seu caminho (Brad é o líder, fazendo bom uso de sua canastrice habitual). Acontece que está para acontecer a pré-estreia de um filme sobre um heroi nazista – e justo no cinema de uma judia que mudou de nome após testemunhar o assassinato da família (a ótima Melaine Laurent). Os Bastardos rumam para lá, pretendendo explodir todos os presentes – dentre os quais o Führer Adolf Hitler -, sem saber que a dona do local, num ato de vingança, também planeja uma emboscada. Não há protagonistas, apenas coadjuvantes com o mesmo peso (o que não deixa ninguém a salvo, tornando todos vítimas em potencial do roteiro). A história é contada em blocos, com direito a cenas longas e diálogos consistentes que só um profissional capacitado como Tarantino conseguiria bolar. Diane Kruger (”Tróia”, “A Lenda do Tesouro Perdido”) e Michael Fassbender (”Fome”) são alguns dos outros nomes relevantes, ambos nos trinques. Mas o show maior é de Waltz, que como mencionei acima, saiu vitorioso em Cannes mesmo sem ser o centro da ação. É uma atuação brilhante, cheia de texturas, que o coloca em posição privilegiada na corrida pelo Oscar de Coadjuvante.
Não é sempre que se vê uma película tão bem acabada, com um roteiro tão engenhoso ou mesmo uma compilação de músicas tão assombrosa (a trilha não é inédita; pega emprestado faixas conhecidas e diferentes entre si para criar, desse emaranhado, a identidade sonora do filme). Também é preciso mencionar o trabalho sempre competente de Sally Menke, a editora de confiança do diretor – ainda que a montagem seja cronológica, a estrutura narrativa tem seus achados. Recomendado para quem está a procura de um programa forte, que combine diversão e referências pop à uma trama que faz pensar um pouquinho, ou simplesmente para quem não quer perder um dos melhores (o melhor?) filmes do ano.
.:. Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009, dirigido por Quentin Tarantino). Cotação: A+
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