A Garota Ideal é um filme bonitinho. Mas não se trata de uma comédia romântica, decerto. Por mais que o filme desemboque em um pouco de romance e um pouco de comédia, o núcleo da estória é a agridoce solidão do protagonista, Lars.
Ele supõe ter pleno controle de sua própria solidão. Até mesmo acredita que a prefere. E aí entra a Garota Ideal – uma boneca que imita a forma de uma garota real. É pela boneca que Lars dá vazão às suas mais agradáveis idealizações. Naturalmente, fica claro desde o começo que Bianca é um estrategema elaborado por Lars para lidar com tantas pontas soltas e não-resolvidas (aquelas que todos temos em boa quantidade).
O diferencial do filme talvez seja sua recusa em cair em psicologismos fáceis. O que levou Lars a criar a existência de Bianca é algo que não é apresentado para o observador. Não obstante, a premissa de gosto duvidoso do filme acaba por ser contada de um modo verossímil e elegante. E é por isso mesmo que permanece – ainda que de maneira sutil – a força perturbadora de tudo o que não é imediatamente racionalizável e apreendido pela realidade normatizada.
Apesar da narrativa convencional, A Garota Ideal é capaz de agarrar o telespectador que tem plena consciência de que há muita sombra no que tentamos arduamente iluminar. Pala freudiana? Não chego a tanto. Apenas relembro a imprevisibilidade do homem, capaz de ser tomado violentamente por necessidades – que, no caso de Lars, manifestou-se como delírios, através da namorada-boneca.
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A temática da solidão me faz lembrar inúmeros filmes. Alguns até mesmo muito em voga por essas bandas. A solidão retratada em A Garota Ideal não é a mesma de A Garota da Vitrine, pessimista, jamais remediada, apenas um pouco disfarçada, e repleta de bocejo e tédio. Tampouco é capaz de resoluções glamourosas como Lost in Translation. Aqui começa uma viagem minha, possivelmente para além de A Garota Ideal: o filme tem uma visão positiva sobre a solidão, uma vez que mostra como às vezes a solidão é diminuída, quase que inteiramente dissipada.
A solidão persiste como inalienável, necessária de ser carregada por todos nós, mas amenizável, não por um encontro epifânico que ocorre uma vez na vida e outra na morte, mas por situações e gestos corriqueiros – que nos possibilitam a conexão, ainda que breve, com outras pessoas.
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