Histórias de amor duram apenas 90 minutos. Dos muitos filmes bons que vi esse ano, acho que nenhum me atingiu com tamanha identificação quanto este. É difícil até começar a escrever sobre, porque é tanto que eu quero dizer – e isso sem cair em um tom muito pessoal desnecessário. Mas vamos lá, enfrentar esse desafio – abordado no filme – que é escrever.
” Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos” trata de um dilema comum, desde que a adolescência se tornou naturalizada na sociedade ocidental, o dilema de torna-se adulto, assumir responsabilidades, fazer escolhas, exercer um ofício, criar-se como homem. Não se trata de um tema inovador, há alguns livros e filmes que falam exatamente sobre isto. O inovador é o cenário e a honestidade com que esse é retratado.
Zeca, vivido por (suspiros) Caio Blat, é um carioca de trinta anos que tenta ser escritor, que é escritor, mas não consegue concluir seu romance – um escritor sem obra, uma piada bastante comum. A trama se inicia retratando sua agonia que a partir de seu bloqueio criativo, sofre com a pressão de seu pai e sua mulher para voltar a escrever (já que ele não faz nada além disso, e passa seus dias ao léu). Ele, então, resignado de sua capacidade para ser um escritor, anda pelas ruas do Centro do Rio de Janeiro – nos dando belíssimas imagens – pois, como diz, adora caminhar por aí, sem direção. E é assim que Zeca segue sua própria vida, passeando, sem muito sentido, perdendo-se dentro de sua imaginação e da história que ele mesmo cria, narra e vivi.
O diretor usa o cenário do Rio de Janeiro jovem-alternativo-onde-todo-mundo-samba-e-ama-baudelaire brilhantemente, e sem parecer forçado expõe elementos que eu vejo a todo momento. Eu poderia dizer que é um retrato de uma geração, mas não gosto desse tipo de definição, então, prefiro dizer que é uma interpretação honesta e criativa desses jovens – que como eu – amam arte, tem seus ideais, seus sonhos, mas talvez por uma falta de objetividade, perdem tudo pelos ares.
Sem dúvida, “Histórias de Amor…”, é o filme que eu queria ver. O filme que eu vi em lugares que freqüento, em amigos, em conversas, nos meus pais, em mim mesma. Senti naquela tela meu próprio drama e saí eufórica com minha penosa dádiva, assim mesmo, nessa ambigüidade onde a verdade se resguarda.
O drama de Zeca é que ele não encontra um sentido para sua vida, é escritor, mas não escreve, vive entediado, como diz,“minha vida é um saco não acontece nada”, então, com toda sua imaginação, recria tudo, confunde tudo, inventa tramas, mas é traído pela realidade, histórias de amor não duram mais que 90 minutos. Zeca é um menino mimado, criado em uma família de classe média alta, teve boa educação e foi iniciado a uma vida cultural, mas como filho único, sofrendo a pressão de ser alguém e sem saber muito bem agir sozinho, imobiliza-se com a impossibilidade de escolher, de ser responsável, e refugia-se em suas mulheres, em seus amores – seus escritores preferidos são suicidas, que se mataram por causa do amor – e assim, com todo charme cedido por Caio Blat, que é um tremendo anti-herói que às vezes caí no ridículo, desses tão presentes na vida. No meio de sua crise, Zeca pergunta “O que eu faço da minha vida, pai?”, e chora, e relembra sua infância, sua história, sem entender muito bem como havia chegado ali. Para mim, foi impossível não me identificar com Zeca, e não ver aquela pergunta ao pai estampada na angústia de tantos amigos meus.
Além disso, “Histórias de Amor…” trata também da “Revolução sexual” deixando implícito um triângulo amoroso, um caso lésbico (nunca confirmado, que para mim existe muito mais na imaginação de Zeca do que na realidade), entre outras inovações já banalizadas em nossa geração.
Um filme com uma história séria, cenas cômicas, leveza e profundidade, tudo de maneira honesta e despretensiosa. Sei lá mais o que falar…
É um puta filme. Muito bom ver um filme nacional com essa maturidade, essa beleza e essa temática existencial (o diretor tem um pé grande na Nouvelle Vague – incluindo uma cena-homenagem a “Acossado” que eu amei – e trabalha com essa influência de maneira muito inteligente, sem perder a característica brasileira e carioca do filme, mas ainda assim o tornando universal, devido à trama.) Assistam, comentem, divulguem, vamos prestigiar o cinema nacional verdadeiramente bom (e deixar que os salafrários com patrocínios e falta de talento sejam esquecidos pelo tempo – e sim, isso é, de novo, uma alfinetada para “Apenas o Fim” =D).
PS: O filma não está mais em cartaz no Festival, mas acredito que deve entrar no circuito, tem que entrar.
Escrito por Taís Bravo
No comments:
Post a Comment