Thursday, October 15, 2009

Glorioso bastardo

Minha emoção e expectativa ao assistir um filme de Quentin Tarantino no cinema eram incomensuráveis (!). Explico: 1) Pulp Fiction é meu filme favorito de todos os tempos 2) Cães de Aluguel e Kill Bill 1 e 2 entram no meu Top20 fácil, fácil. 3) Não cheguei a ver a saga da noiva lutadora no cinema, muito menos o último filme do diretor, Deathproof 4) Sem mencionar o fato de que Quentin Tarantino, juntamente com Martin Scorsese e Woody Allen, formam a minha “Tríade Sagrada” do cinema.

Tamanha expectativa poderia prejudicar a qualidade da maioria dos filmes que eu pudesse ir assistir. Mas estamos falando do diretor que já vendeu roteiros para Tony Scott e Oliver Stone para pagar seu primeiro filme (isso segundo a lenda, claro). Nunca é um erro se empolgar com a possibilidade de ver um filme de Tarantino. Pelo contrário – é de se maravilhar a habilidade que ele tem de superar expectativas e, entre outras coisas, usar elementos parecidos em todos os seus filmes mas que jamais soam datados ou sequer carregam consigo um clima de déjà vu.

Agora que percebi que ainda não falei o nome do filme que é a razão de existência dessas linhas: Bastardos Inglórios – sétimo filme de Quentin e seu segundo lançamento em dois anos. A película é sobre um grupo de soldados americanos judeus que vão para a França e, sob o comando do Tenente Aldo Raine (Brad Pitt, numa atuação impagável e hilária), espalham um certo temor pelo exército nazista com a fama de escalpelarem qualquer ser humano que tenha simpatia pela suástica.

"...and I want my scalps."

Bastardos conta com todos os detalhes que fazem dos filmes de Tarantino obras tão cultuadas – estão lá a violência excessiva e, na maioria das vezes, gratuita; os diálogos rápidos e mais que afiados; personagens que beiram caricaturas; a divisão do filme em capítulos; trilha sonora com músicas à la Ennio Morricone e western spaghetti; enquadramentos peculiares e por aí vai…

Apesar de ter em seu elenco estrelas como Brad Pitt e a estonteante Diane Kruger, o filme se sustenta em boa parte de sua duração em nomes não tão conhecidos como a lindííííííssima Mélarie Laurent, Eli Roth (O Albergue), Daniel Brühl (Edukators) e, é CLARO, Christoph Waltz – o ator simplesmente rouba a cena em todas suas participações. Fato este que rendeu a Christoph a Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano. Nada mais merecido para uma performance que exigiu de Waltz uma fluência espantosa em 4 idiomas diferentes, trejeitos eloquentes e mudanças sutis e impecáveis de semblante em determinados momentos.

Como já falaram por aí, Basterds é tudo, menos um filme de guerra. A guerra é, no entanto, um perfeito pano de fundo para uma história envolvendo muito mais temáticas vingativas e raciais do que o combate propriamente dito. A violência existe – e como! -, obviamente. Mas ela faz muito mais parte do universo tarantinesco, onde dedos enfiados em ferimentos de revólver e pancadas na cabeça com taco de beisebol são mais que aceitáveis, do que de um possível universo de segunda guerra retratado no filme.

Aaaaah, Mèlanie Laurent... (/suspiro)

Assistir Bastardos Inglórios na telona foi uma experiência inesquecível, exatamente como achei que seria – um filme sensacional e que já é, pra mim, o melhor do ano (calma, ainda não assisti Distrito 9). Um filme que mostra a maturidade de umas das grandes cabeças do cinema dos últimos 17 anos. Um filme com cenas de comédia e drama que se tornarão clássicas. Um filme que, mesmo com seus longos 150 minutos, acaba e deixa seus espectadores implorando por mais escalpos.

E, para quem já viu o filme, a MINHA resposta para a genial e algo metalinguística (e muito prepotente, diga-se de passagem) pergunta de Brad Pitt para seu companheiro bastardo que encerra o filme: Não, Tarantino. Sua obra-prima foi feita há 14 anos. Mas você chegou muito perto. Muito.

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