Crítica de Cinema – Texto publicado originalmente em A ARCA, em 16/08/2006.
Oba, oba, oba! Bora lá para mais uma crítica, e desta vez, do esperadíssimo Terror em Silent Hill (Silent Hill, 2006), que como todos sabem, é a versão live-action do famoso game de horror da Konami, um dos mais festejados do gênero.
Antes de qualquer coisa, porém, eu gostaria de fazer um esclarecimento: este é um longa-metragem que eu decididamente não gostaria de resenhar, por uma única e simples razão: não conheço nada do game e infelizmente não tive tempo hábil para jogar ao menos o primeiro. Tudo bem que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas seria interessante poder tecer comparações, não é mesmo? Entretanto, fui incumbido desta tarefa pois o caríssimo senhor Benício, que já fechou “Silent Hill” e inicialmente seria o responsável por este texto, não pôde comparecer à sessão de imprensa por ter sido torturado e deixado à morte por fãs revoltados de Johnny Cash motivos de força maior.
Mas por favor não se preocupe. Este lance de não conhecer o game, meu caro, não será um problema, eu garanto. Terror em Silent Hill é bacanudíssimo de qualquer forma! Não é um clássico do gênero, mas vale numa boa todo e qualquer centavo gasto no ingresso.
Bem, com relação a similaridades filme/jogo, não dá mesmo para comentar – ainda que o Kaickull, que também marcou presença na sessão (mas não assinou a resenha por ter sido torturado e deixado à morte por fãs revoltados de Adam Sandler motivos de força maior), afirme que os fãs mais empolgados não reclamarão do conjunto da obra, mas não curtirão uma ou outra “liberdade artística” da adaptação. Mas como cinema, Terror em Silent Hill é muito bem-feito e totalmente climático. Cortesia do ótimo trabalho do cineasta francês Christophe Gans, o mesmo do legalzaço O Pacto dos Lobos – se você ainda não conferiu esta jóia, saia voando até a videolocadora mais próxima, per favore.
Por outro lado, há uma ressalva importante com relação à fita. Quem se empolgou com o excelente trailer e espera um terrorzaço de fazer qualquer um querer levar uma privadinha ao cinema (!), certamente se decepcionará. Terror em Silent Hill tem um clima assustadoramente soturno, sim, mas a narrativa do roteiro de Roger Avary (habitual colaborador de Quentin Tarantino) segue uma linha mais comedida. Pra falar a real, o filme encaixa-se bem melhor no thriller dramático do que no terror em si. Dá medo? Não, não. Dá sustos? Nops. Deixa o público tenso? Bem, eu não fiquei muito não. Mas o climão pesado, os ótimos efeitos visuais e o elenco afinadinho compensam esta falha. E sinceramente, nem enxergo como “falha”: quem conhece o cinema de Christophe Gans, sabe que o sujeito gosta de trabalhar situações fantasiosas com os pés bem grudadinhos na chon, como diria a gloriosa Dona Armênia.
Como o próprio Gans comentou, Terror em Silent Hill é muito mais um Além da Imaginação (com uma enorme cara de “filme europeu”, é fato) do que um Resident Evil – O Hóspede Maldito da vida (graças a Deus). Definição perfeita, essa.
A trama construída em celulóide não ofende a inteligência dos fãs e também não deixa os leigos perdidos: as crises de Sharon (Jodelle Ferland), acometida por uma estranha doença que a faz ter delírios, dizer coisas sem sentido e fazer desenhos macabros, andam piorando muito, para desespero de seus pais, Rose (Radha Mitchell, Melinda e Melinda) e Christopher (Sean Bean, Terra Fria e Plano de Vôo). Em vários de seus tenebrosos acessos, a menina, que é adotada, cita um lugar chamado Silent Hill. Medonho!
Ao descobrir que trata-se de uma cidade, a desesperançosa Rose tem um estalo e acredita que uma visitinha ao lugar pode ajudar Sharon a se curar. Christopher, resistente à sugestão dos médicos de internar Sharon em um instituto psiquiátrico, declara sua repúdia à idéia da tal visita ao tomar ciência de boatos que referem-se a Silent Hill como uma cidade-fantasma… e amaldiçoada. Rose ignora a opinião do marido e se manda com a filhota para lá.
Perto da tal cidadela bisonha, o carro de Rose sofre um acidente. Quando ela acorda, Sharon sumiu. Só resta agora à jovem mãe procurar pela filha desaparecida… em Silent Hill. E… bem, o resto eu não vou contar não, para não estragar! Se quiser, vai ver o filme, oras!
O que posso dizer sem estragar a experiência – já que é bom que o espectador vá à sessão com o mínimo de informação possível – é que Terror em Silent Hill não é um filme fácil. Aparentemente, chega até a ser confuso, já que as peças do quebra-cabeça são apresentadas aos poucos, em doses homeopáticas. Então, o que temos em boa parte da projeção é Radha Mitchell (maravilhosa, por sinal) e a intrépida policial Cybil Bennett, vivida por Laurie Holden (de Quarteto Fantástico), em busca do paradeiro da menina e cruzando com as mais bizarras criaturas. O verdadeiro “tchan” por trás da história da cidadezinha macabra só é revelado perto da conclusão da fita – que, segundo o Kaickull, pode revoltar alguns entusiastas do jogo.
Confuso, entretanto, não quer dizer incoerente. A história é bem-construída e não dá espaços para furos gritantes, embora uma ou outra coisa pareça meio forçada – como a indiferença de Rose ante a tantas situações amedrontadoras e um certo momento em certa seqüência envolvendo Rose, a fanática Christabella (Alice Krige, dos seriados Deadwood e The 4400) e um punhal. Incomoda também o fato de o segredo por trás de Silent Hill ser um tanto previsível: se você prestar bastante atenção, consegue deduzir a história inteira com bastante antecedência, e nem precisa ter um mínimo de conhecimento da cronologia dos games para tanto.
Na boa? Estes elementos problemáticos são a metade vazia do copo e, aqui, deve-se olhar a parte cheia, que está repleta de acertos. Particularmente, gostei MUITO da fotografia envolta em névoas e sombras criada pelo dinamarquês Dan Laustsen (o mesmo de No Cair da Noite), assim como curti os cenários, a ESPETACULAR trilha sonora e principalmente o design das criaturas (as enfermeiras “tortinhas” dão um nervoso do cacete…). E contrariando a regra “filme de terror não importa-se com atuações”, Sean Bean continua o mesmo cara bacana de sempre, Laurie Holden é um nome a se guardar e Radha Mitchell anda superando-se a cada filme que faz.
Ah sim, e a atriz-mirim Jodelle Ferland, que poderá ser vista nas telonas em breve com o ultra-mega-bizarro Tideland (o da piveta que conversa com cabeças de Barbie presas em seus dedos), prova que Dakota Fanning de loló é pirulito (!).
Então… Terror em Silent Hill vale a pena? Sim, sim! Vale sim, e é um daqueles longas-metragens que nasceram para ser vistos na TELONA DO CINEMA. Mas é bom pegar a sessão consciente de que não é um grande filme, e que não estamos falando de um notório exemplar do cinema de HORROR. E os fãs da saga em game… bem, como disse lá em cima, não sei dizer. Mesmo. E peço perdão por isto. Mas quem é fã, vai assistir de qualquer jeito, não é? Se estamos falando do primeiro longa a honrar a categoria das adaptações de games, isto só você pode me responder. Mas pelo menos não tem Uwe Boll aqui. Isso, meu caro, já é um belo de um ponto positivo.
Olha, ainda bem que eu consegui terminar isso aqui antes que fosse impedido por ser torturado e deixado à morte por fãs revoltados de Tom Hanks motivos de força maior!
CURIOSIDADES:
• A versão de Terror em Silent Hill exibida nos cinemas é exatamente o que o diretor Christophe Gans queria que o público visse. Explico: quase 100% dos longas que chegam às telonas sofrem pelo menos um ou dois cortes impostos pela censura ou pelos produtores. Terror em Silent Hill não sofreu um único corte. Por outro lado, a primeira versão do script era mais sangrento e previa que a fita tivesse a duração inicial de 220 minutos, ou seja, 3h40m (!).
• Christophe Gans levou cinco anos para conseguir os direitos do game. A Konami, até então decidida a não vender os direitos por conta do fracasso de crítica dos filmes-baseados-em-games, só dobrou-se ao cineasta quando este enviou a seus executivos um pequeno vídeo. O vídeo era dividido em duas partes: na primeira, Gans contava o que os jogos da série Silent Hill representavam a ele; na segunda, eram apresentadas cenas rodadas do próprio bolso e mixadas com a trilha sonora dos jogos.
• A escolha inicial do diretor francês para viver a policial Cybil era Cameron Diaz. E o roteiro original não trazia personagens masculinos, apenas femininos; Sean Bean foi convidado a participar, depois que os produtores reclamaram da ausência de um homem entre os personagens relevantes.
SILENT HILL • EUA/FRA/CAN/JAP • 2006
Direção de Christophe Gans • Roteiro de Roger Avary
Elenco: Radha Mitchell, Sean Bean, Jodelle Ferland, Laurie Holden, Deborah Kara Unger, Alice Krige, Kim Coates, Tanya Allen.
127 min. • Distribuição: Columbia Pictures.
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