Marcos Fanton
(Esse meu post tem uma ligação com o post do Fabrício, sobre epistemologia moral para a pornografia, escrito logo abaixo).
Bom, como o FAbs argumentou, podemos dizer que o ambiente acadêmico é arrogante em relação a “baixa cultura” e, ainda mais, sobretudo, principalmente, com algo que diga respeito a sexo sem o filtro de um vocabulário mais “soberbo”. Acho que os primeiros parágrafos do post dele são brilhantes em relação a isso.
Porém, a minha principal pergunta sobre a relação filme pornô e estudos acadêmicos é a finalidade do filme pornô. Por exemplo, Hitchcock dizia que seus filmes eram pra divertir o público – apenas. Cinema = entretenimento. Mas, a partir dele, houve um calhamaço gigantesco de páginas sobre seus filmes, teoria do cinema, etc.
Agora, um filme pornô pode ser considerado sinônimo de “entretenimento sexual” (masturbação e sexo). E, por isso, eles são desprezados: porque serve para tu mandares um 5 contra 1 – apenas. Isto pode implicar que eu esteja falando apenas de um tipo de filme pornô – e são os que eu mais assisto . E, neste sentido, eu diria que a Carmella Bing ou a Shy Love, no mais das vezes, me mostram umas peitolas lindas ou um jeito mais delicioso de “fazer-movimentos-rítmicos-junto-com-uma-pessoa(-ou-mais)-do-sexo-oposto” .
O meu ponto é que a falta de interesse teórico em filmes pornôs parece estar em sua finalidade. Por exemplo, por que Os Idiotas, do Lars Von Trier, junto com o tal do Dogma 95 ficaram tão famosos? E isso muito tempo depois do pornô amador? E por que um filme pornô famoso sempre tem que ter uma desculpa esfarrapada, para ficar na calçada da fama, como essa, no verbete O império dos sentidos da Wiki: “Não obstante tratar-se de uma película com cenas reais de sexo de forma muito franca, sua história de paixão entre os protagonistas tem qualidade e profundidade, sendo inegavelmente um filme com muitos tributos enquanto arte e belíssimas atuações”. Estes comentários são uma complementação do que o Fabs falou ali embaixo e acho que ele já fez um belo de um trabalho, então vou passar a bola pra outras questões.
Esse meu primeiro questionamento tenta pensar, também, se o desinteresse não está no antigo preconceito cultural que contrapõe profissão intelectual vs. atividade sexual. Ora, se te deixassem ver qualquer pessoa que tu quisesse na história da humanidade transando, com certeza, as primeiras não seriam Sócrates e Xantipa, Santo Agostinho e a mulher-mãe-de-Adeodato ou Heidegger e Hannah Arendt, Kant e ????. Apesar de isso cair no ridículo atualmente, não é difícil de achar gente que ainda pense que casamento é incompatível com filosofia.
Outro questionamento que eu coloco, já que hoje eu li o texto fantástico do Geertz, Anti Anti-relativismo, seria de se não há um medo exagerado em liberar a putaria de uma vez entre todo mundo e admitir que sexo é algo tão normal quanto comer uma bisteca ou ir dar uma banda de bicicleta. Claro, sexo é algo que envolve muita coisa, etc. Mas, esse não é meu ponto. Eu quero dizer que parece que há um medo deturpado de se pensar que que se teus filhos verem uma trepada na tv, eles vão sair por aí querendo trepar com o coleguinha de 3 aninhos. Assim, acho que me colocaria como um anti anti-pornografia (Ok, a despeito das observações do fabs, eu estou usando termos pomposos, mas, enfim). O que isso significa? Que a posição de quem acredita que sexo ou pornografia precisa ser colocada sempre de uma forma velada (isto é, com proibições ou com termos pomposos [como o meu!?!]), é uma posição inconsistente, porque acredita que, liberando geral, as pessoas, de fato, vão querer liberar geral e, daqui a pouco, tu vais precisar cuidar até com o buraco do tanque de gasolina do teu carro. Ora, sexo é importante, mas não chega a ser tão importante assim. E, além disso, querer proibir uma criança a ver filmes supostamente indecentes, como de sexo, violência, etc., só te faz permanecer em uma posição confortável de quem possui um saber e que irá autorizar à criança quando ela pode ou não saber sobre determinados assuntos. Ou seja, isto exclui/barra as descobertas biográficas, liberando apenas as institucionalizadas – é assim que interpreto o argumento do Fabs. Posso estar sendo muito liberal aqui ou não vendo consequências, mas, o interessante é tentar mudar, isto é, deixar de lado histórias da carochinha que nossos pais nos contavam para nos mostrar que o mundo vai continuar bonito e bem colorido mesmo quando crescermos e que os dragões ou os fantasmas vão desaparecer quando gritarmos bem alto para eles nos acolherem.
Agora, indo para outras questões:
Se não há um interesse teórico, parece que não há também um interesse financeiro estatal ou institucional, digamos assim, de filmes pornôs. Há algum programa do governo que estabeleça verbas para filmes pornôs? Há alguma faculdade preocupada na formação de atrizes ou atores pornôs? E de diretores? Há alguma agência de filme pornô com ações na bolsa de valores? E outdoors de filmes ou atores pornôs, vale? É insultante? E um programinha com a namorada no Guion? As perguntas aqui são para radicalizar mesmo, tentar ver como seria a indústria pornográfica inserida em um ambiente um pouco mais cotidiano e público – e pensar se isso traz algum resultado interessante. Não é demais ressaltar que isso são perguntas – e não faz mal pra ninguém perguntar.
Uma questão que acho importante: Por que fazer filme pornô é tão diferente de ir pra zona? Por que as duas partes são pagas? Por que ambas se “prostituem”? Manter um bordel é tão diferente assim de manter uma agência de pornografia? Ou é por que o filme é praticado em um lugar longe de quem está assistindo? Ou seja, quem assiste, supostamente, é alguém diferente de quem fez o filme? Esta é uma pergunta que pensei agora e que me intrigou muito. Acho que daria pra botar muita lenha nessa relação entre prostituição-pornografia, porque, geralmente, não pensamos que um atriz pornô é uma prostituta.
Enfim, como o assunto é delicado, eu quis levantar alguns questionamentos e colocar algumas posições. Mas, isto não significa que são definitivos, de combate ou que querem deturpar/ridicularizar o pensamento de outras pessoas. São argumentos e, como todo argumento, podem ser discutidos.
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