[Cobertura do Festival do Rio 2009]
- por Bernardo Brum
É incrível como Doce Perfume consegue prometer tanto e ser tão inferior a seus predecessores recentes, especialmente o drama de Segunda Guerra Katyn, um dos melhores exemplos do cinema do diretor nos últimos anos.
Dirigindo de forma bastante burocrática, Wajda entrega uma idéia interessante: a partir da morte por câncer do cineasta Edward Kosiski, falecido enquanto sua esposa, a atriz Krystyna Janda, atuava no novo filme do diretor, sobre a história de uma mulher que, sem saber que iria morrer em breve, sofre com a perda dos seus dois filhos na Segunda Guerra ao mesmo tempo que se envolve com um jovem polonês de vinte anos, que abandona a garota que namorava para ficar com ela. Quando tudo parece se acertar novamente, o jovem morre afogado ao tentar atravessar um rio para buscar flores para ela.
Nessa metalinguagem que promete, Wajda mistura, de forma bastante preguiçosa e didática o filme em si e o “filme dentro do filme”. De ritmo bastante arrastado e cansativo, em uma hora e meia o filme pouco diz ao que veio e desenvolve suas intenções menos ainda. O filme pouco a pouco vai deixando o interesse se dissolver ao optar por nem fornicar, nem sair de cima. Tudo parece tocado no piloto automático, inacreditável pra quem dirigiu filmes explosivos e passionais feito Cinzas e Diamantes (curiosamente, o cineasta faz uma auto-referência pra lá de aleatória à sua obra-prima lá pelo meio do filme).
Apesar do inegável talento de Krystyna Janda, isso ainda não é o suficiente para salvar o filme – e olha que até se esforça muito, seja quando faz a “personagem da personagem”, seja na Krystyna ficctícia em um conceito realmente complexo e que alcança seus melhores momentos nos seus depoimentos quase documentais de câmera parada e movimentação livre, num ponto onde não dá pra distinguir improvisação, texto e depoimento. Esses momentos sinceros e doídos são praticamente um oásis no meio de um filme sem rumo, que se prolonga demais nas partes do “filme dentro do filme”, que é desinteressante demais e toma pelo menos 70% do filme.
E é assim que sem jogar uma luz satisfatória sobre os mecanismos do cinema e sua confrontação com a realidade, de como os fantasmas ficcicionais não são nada comparados aos reais e muito pessoais que a curta duração do filme parece durar mais do que devia, apenas arranhando superficialmente o aspecto humanista e trágico provocado por grandes momentos políticos. Nem parece o mesmo Wajda de um ano atrás.
(E, só pra não perder a chance, só faz outro filme de conceito parecido, Olhos de Serpente, de Abel Ferrara, parecer ainda melhor.)
2/5
Doce Perfume (Tatarak) – 2009, Polônia – Dir.: Andrzej Wajda – Elenco: Krystyn Janda, Jadwiga Jakonska-Cieslak, Pawel Szajda, Andrzej Wajda.
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