John Cassavetes gostava de filmar vulcões em erupção, aqueles momentos em que as pessoas não sabem muito bem o que fazer. Afinal, quando há fogo transbordando por todos os lados, o instinto acaba prevalecendo. Foram esses impulsos extremamente humanos que Cassavetes soube documentar como ninguém.
Em Faces, de 1968, a explosão está na crise conjugal de um casal. E Cassavetes se dedica a uma noite inteira de instabilidades. O homem divide as gargalhadas amargas com uma prostituta, a mulher vai com as amigas numa casa noturna e termina a farra, em pleno desespero, com um desconhecido. Em Maridos, de 1970, há a súbita morte de um homem, algo que acaba desorientando seus três melhores amigos. Temos novamente Cassavetes acompanhando uma noite de impulsos de seus personagens.
Nos dois filmes, Cassavetes se concentra na ausência. Tanto do amigo em Maridos, quanto da relação conjugal em Faces. É o vácuo, a falta de um chão, que acaba trazendo o elemento desestabilizador, as explosões que encaminham a crise.
Já em Uma Mulher Sob Influência, de 1974, não é ausência, mas uma presença que acaba tirando os personagens da estabilidade. Mabel (Gena Rowlands) é uma mulher no limite da sanidade. Estamos diante de alguém que respira o inesperado. Cassavetes constrói sua obra na relação entre ela e a família. Tanto que não vemos o momento de internação. A ausência é uma enorme elipse da obra-prima do diretor.
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