Incomunicabilidade em planos é um dos grandes acertos, sempre notáveis, de O Espírito da Colméia. Victor Erice transfigurou símbolos e metáforas para a disforme poesia que carrega no filme; eternamente figurado como uma obra de arte. Não é daqueles filmes que te jogam na ação logo em seu início. Pelo contrário, há contido na sua maioria uma introdução do que viria a ser a incomunicabilidade metafórica contida em cada frame, extremamente evidente. Meus méritos ao diretor, que conseguiu chegar aos pés de Antonioni, quando tratamos do silencio e monotonia que constroem a obra de ambos. Apesar de em “O Espírito da Colméia” esse silencio ser muito menos implícito que no Cinema de Antonioni, em compensação esta adquire simbolismos geniais, que complementam a idéia a que se propõe.
Por sinal, nem de uma premissa simples o filme parte. Inexplicável a forma como Erice dirige algo tão complexo, e de certa forma banal, perante uma trama que parte ao subconsciente das pequenas personagens do filme – sim, ele consegue extrair e sintetizar uma pura mise-en-scène vinda de crianças que aparentam uma idade de seis ou sete anos. Erice entrelaça fé, ficção e política para debater questões existenciais e deveras humanas.
A história baseia-se em duas pequenas irmãs, durante a ditadura de Franco na Espanha. Após assistirem ao filme “Frankstein”, buscam o espírito do monstro e, untadas à fé, passam por uma fascinante jornada de autoconhecimento (essa afirmação deve-se prevalecer somente à Ana, que é a irmã protagonista do filme). Muitos já diziam que Erice vem deixando discípulos, no Cinema. O mais novo trabalho de Del Toro, O Labirinto do Fauno, é uma espécie “dark” de “O Espírito da Colméia”, já que ambos pretendem intervir o fantástico nos acontecimentos da ditadura.
Explicar a sensação de subsidiar planos-sequencias tão perfeitamente parametrizados é simplesmente impossível. O que resta ao espectador é apenas elogiar e deliciar os movimentos, enquadramentos e iluminações. A fotografia é daquelas que fazem nossos olhos lacrimejarem. A escolha das alternações de planos configura, junto à fotografia, uma obra de extrema arte lírica, na qual quando vista, é inaceitável o fato de não lembrar-se da poesia que reside no bom Cinema. Aquilo que você acompanha com os olhos nem sequer é um filme, é uma arte, que permite diversas releituras.
Eterno, simplesmente.
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