Tuesday, September 22, 2009

A Verdade Nua e Crua

“A Verdade Nua e Crua” tem a badalação, a beleza e os astros que “Falando Grego” não tem, e ainda assim, a nova comédia romântica de Katherine Heigl consegue ser um pouquinho pior do que a de Nia Vardalos. A Izzie de “Grey’s Anatomy” está determinada a se tornar uma referência no gênero, mas como já devo ter comentado por aqui, ela está longe de ser uma Sandra Bullock, e fazer par romântico com o bonitón escocês Gerard Butler não ajudou em muita coisa.

Nessa história descaradamente misógina (originada, sabe-se lá como, por três roteiristas do sexo feminino), um guru (Butler) tenta convencer as mulheres, através de um programa na rede de TV local, de que os homens não prestam. De que para atrair a atenção do sexo oposto elas devem abandonar os ideais românticos, começar a malhar e a se produzir. Os atributos físicos, diz ele, são a única coisa que importa para os machos, e não aquela bobagem de beleza interior. A produtora de um telejornal caído (Heigl) fica chocada ao presenciar um desses discursos, e ainda mais escandalizada quando se vê forçada a trabalhar com esse machista escroto (os executivos do canal o consideram uma boa solução para a queda de audiência). É claro que eles vão se espezinhar, e é ainda mais óbvio que dessas provocações vai nascer um interesse mútuo e genuíno, que também pode ser chamado de amor. Mas o cara se recusa a admitir, pois tal sentimento vai contra todo o ceticismo que prega para o público; e a moça, uma controladora neurótica, vai desviar o tesão para seu vizinho, um médico boa pinta que o próprio guru lhe ajuda a conquistar, em troca de uma relação profissional mais cordial.

Se você ficou com a impressão de que a trama não faz muito sentido, acertou. Tem uma porção de situações forçadas, difíceis engolir, mesmo se tomarmos tudo o que vemos na tela como parte de uma realidade distorcida e exagerada. A heroína é uma chata de galochas, e não dá para se simpatizar com um mocinho que é um estereótipo do pior tipo de homem que pode existir. Também é difícil acreditar em seu sucesso, já que desde muito antes da revolução sexual suas teorias seriam consideradas ofensivas e absurdas. Aqui, em vez de acabar apedrejado em praça pública, o personagem vai ganhando mais e mais notoriedade, a ponto de ser convidado a aparecer num famoso late show em rede nacional! E nunca esclarecem o motivo de seu ódio contra mulheres e relacionamentos, apesar de ficar claro que seu passado guarda uma experiência desagradável (mas escancaram isso numa cena cafoníssima, quando na entrevista em questão, o apresentador Craig Ferguson lhe faz uma pergunta a respeito e ele faz uma pausa e cara de triste, no estilo “quero ficar sozinho, por favor me deixe”). Ai.

Ou seja, com papeis tão fracos, Heigl e Butler surgem constrangidos. Bem fotografados, é claro, mas péssimos em cena (ela em particular nunca esteve pior, e olha que achei seu timing impecável no filme anterior, “Vestida Para Casar”). Também não ajuda que, da porção de coadjuvantes, a nenhum é dada a chance de marcar – uma irmã e um sobrinho de Butler nunca são desenvolvidos, e o casal de âncoras do telejornal que tem problemas sexuais rende péssimas piadas (Cheryl Hines e John Michael Higgins são bons comediantes e não deviam se submeter a isso). As tiradas cômicas de gosto duvidoso também se estendem aos protagonistas. Para vocês terem ideia, há uma insinuação vulgar de sexo oral num estádio de beisebol e um orgasmo involuntário no meio de um restaurante! Não que pudéssemos esperar muita coisa de um diretor medíocre como Robert Luketic (ele fez o divertido “Legalmente Loira” e um drama bacana que descobri em vídeo, “Quebrando a Banca”, mas já tinha cometido atrocidades como “Um Encontro com Seu Ídolo” e principalmente “A Sogra”). O grande problema dessa vez é que “A Verdade Nua e Crua” é apimentado demais para adolescentes e fútil demais para o público adulto. Só as fãs incondicionais das comédias românticas devem curtir sem ressalvas.

.:. A Verdade Nua e Crua (The Ugly Truth, 2009, dirigido por Robert Luketic). Cotação: D+

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