Vou confessar, sem vergonha nenhuma, que não gostei de Salve Geral, filme dirigido por Sérgio Rezende e escolhido como representante do país na corrida a uma vaga entre os finalistas na categoria Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2010. Desconfio de que a comissão responsável pela escolha do filme seja partidária à certeza de que o Brasil não tenha chance alguma de figurar entre os cinco candidatos finais.
Confesso também minha mais do que nunca frequente preguiça com filmes em geral e cinema em particular. Raros são os que me animam a sair de casa pra encarar um telão rodeado de pessoas que ficam fazendo piadinhas e rindo de si próprios enquanto o filme rola, ou com aquela gente que adora atender celular (que geralmente têm os toques mais escandalosos possíveis) e ficar de papo comentando até o capítulo do dia anterior da novela, e ainda o povo que não para de chutar seu encosto e dar joelhadas na sua cabeça… Quase sempre penso que, dentro da limitada dimensão da minha humilde TV, o conforto de casa compensa esse “sacrifício” todo.
Daí me veio a notícia de que Salve Geral teria uma exibição- GRATUITA – de pré-estreia no Cine Arte UFF com um debate com o diretor, Luiz Eduardo Soares (doutor e professor da UERJ e autor de Elite da Tropa) e mediação da professora (de Mídia e Violência) e mestranda da UFF Flora Daemon. Lá fui eu com duas amigas na maior das boas vontades, disposto a me surpreender com a obra e acompanhar com entusiasmo ao debate. Lêdo engano.
- Deus, por favor, faça com que nosso filme não esteja no Oscar do ano que vem!
- Fica tranks, Dedeia! A comissão do Ministério da Cultura já se encarregou e garantiu que não estaremos lá.
O filme se arrasta por duas horas. O tema atual e que poderia render numa coisa eletrizante, digna de muito suspense com suas personagens envolvidas em tramas recheadas de traições, segredos e reviravoltas, resulta entediante e com jeito de desleixado. A direção pesada de Rezende dá ao filme um aspecto de produção da década de 70. Não é que seja pobre, é apenas antiquado. Andréa Beltrão, de quem gosto muito, é a única digna de ser chamada atriz no filme. Mas a coitada é obrigada a falar cada frase típica de melodramas de TV e passar em segundos de ingênua envolvida pelo ingrato destino no escuso negócio da criminalidade depois que seu filho é preso (justificadamente) a pessoa “descolada” no esquemão. A “madrinha” dela nessa vida é Ruiva, uma interpretação caricata de Denise Weinberg. Toda vez que aparecia o Pedrão, detento líder do PCC, eu era tomado por uma vergonha alheia tremenda diante de tamanha falta de expressividade. O resto do elenco também não convence. Não há inventividade na edição ou fotografia, a abertura com seus créditos hollywoodinamente elaborados me causou uma falsa primeira impressão de que veria algo que marcasse o final da primeira década do novo milênio como retrato da época mas o que eu senti foi estar assistindo a um produto que poderia ter sido feito igualmente há 30 e poucos anos. Pretende-se como algo surpreendente no decorrer da história e no desenvolvimento (e também desfecho) das personagens e não inova ao colocar um presidiário com quem Lúcia (Andréa Beltrão) tem um caso de amor bandido na pele de um ator bonitão (minha amiga ficou suspirando ao meu lado quando ele aparecia em cena) enquanto seu rival Pedrão é negro e feio. Não seria mais interessante, já que estamos no século XXI e muitos preconceitos já caíram tanto na ficção quanto na realidade, eles terem fugidos dos estereótipos antiquados e colocado um ator de verdade (como o Lázaro Ramos ou o Matheus Nachtergaele) pra fazer o Professor e um galã que soubesse atuar no papel do opositor? Em algumas cenas a plateia soltava risadas, e acredito que tenham sido provocadas voluntariamente. Pelo menos eu ria do rídiculo de algumas delas. A única parte que me fez soltar risadas expontâneas foi quando Lúcia recusa uma cheirada de cocaína justificando que irá dirigir. A cena de perseguição me certificou de que via a mais um exemplo de que tem certas coisas que poucas pessoas deveriam ousar fazer no cinema nacional. Se fosse um Fernando Meirelles, seria outra coisa. Mas como não é, vemos um caminhão de mudanças enorme fechar uma rua, mesmo com o alarme do carro de polícia berrando, e depois uma das conclusões mais canastras que já vi – ou é comum carretas que transportam automóveis ficarem estacionadas nas calçadas com suas rampas abaixadas?
O filme terminou e não me satisfez. Não fui cativado por nenhuma personagem, não torci, não me envolvi. Apenas me aborreci. Achei uma pena. Mais uma vez o Brasil estará fora do Oscar. Acredito que a participação só acontecerá no dia que o cinema nacional parar com a mania de achar que temos apenas uma realidade – a da marginalidade. Continuo implicando com essa coisa de termos sempre filmes de destaque que seguem a linha do “retrato da realidade” – invariavelmente miséria e criminalidade. Há quem saiba e possa fazer. Há quem deva ficar no lado das produções menos ambiciosas. Pronto, falei!
Dr. Prof. Luiz Eduardo Soares
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