Em outras publicações deste Blog defendi a tese que o ato comparativo é uma construção cultural, mas também um fator biológico, já que desde a infância construimos nossa psique utilizando tal artifício. Nosso cerebro é uma máquina de análises, algumas são inconscientes outras não. Ao olhar para o outro elaboramos diversos tipos de comparação, seja na simetria dos lados do corpo ou na proximidade física com certo índividuo. Esta comparação de um sujeito com o outro ocorre também no campo cultural com a análise (categorização) das obras de Arte. Em todas as áreas do conhecimento esta aproximação pode levar a uma dualidade muitas vezes pobre que categoriza o que é “melhor” e/ou o que é “pior“.
Percebo que o número de comparações ganha força com as novas mídias digitais e o poder de expressão que as mesmas permitem. Estamos expandido o universo do Top 10, aquela lista preciosa das 10 melhores coisas, uma seleção fundada a partir de gostos e experiências pessoais de cada índividuo. Quais os critérios de seleção de um vencedor? As regras de competições, mostras e concursos muitas vezes permanecem no obscurantismo até o anúncio do agraciado. Há quem bata o pé e discorde da escolha sem ao menos saber o porque.
Não há como negar que o Homem goste de estar em competição contra algo ou alguém, o suspense quanto ao “Melhor” eleva os níveis de adrenalina e em caso de resposta positiva carrega o sujeito ao estado de graça. Porém será que tais vencedores pensam no mal-estar causado ao outro, na derrota gratuita que o não condecorado sofre mesmo sabendo dos riscos em competir? Há quem leve a cerimônia muito a sério e não aceite perder o título de “The Best Of”. Não sou contra a competição mas talvez quanto a falta de reflexão sobre a mesma.
Eleger algo ou alguém para uma posição de destaque é um ato que exige muita sensibilidade e conhecimento. Como escolher os 10 maiores quadros de Van Gogh ou as 10 melhores composições de Beethoven? Certas vezes este “melhor” tem relação com a fama e não propriamente com a qualidade da obra. O “melhor” sempre é escolhido dentre uma lista pequena que aos poucos fica enxuta causando dúvidas no público votante.
Em uma das aulas do curso de extensão que faço, o professor comentou que Andrei Tarkovski e sua produção Espelho figurariam na lista dos 5 melhores . Obviamente esta escolha é fundada nas obras que o mesmo já tivera contato. Já vi o filme e acho genial, mas por opção pessoal não colocaria na minha seleção de melhores ou piores. Aliás com o tempo percebo que é tolice tentar enumerar as obras nessa dualidade. Posso dizer que tenho na cabeça os filmes mais marcantes que já assisti, mas prefiro livrá-los de qualquer classificação.
Questionado quanto os 10 melhores filmes de “todos os tempos” (entenda por passado) fiz uma lista pessoal das produções que mais me impressionaram no quesito técnico e narrativo. Nem de longe troféus e estatuetas representam o sentimento que tenho por estas obras, elas conquistaram muito mais que um objeto inanimado, atingiram o status de obra de arte sensibilizando muitos espectadores. Mesmo correndo o risco de cometer a injustiça da escolha, deixo a seleção para os mais curiosos:
01- O Ano Passado em Marienbad (Alain Resnais, 1961)
02 – O Sétimo Selo (Ingmar Bergman, 1957)
03 – A Dupla Vida de Veronique (Krzysztof Kieslowski, 1991)
04 – A Professora de Piano (Michael Haneke, 2001)
05 – Tempos Modernos (Charles Chaplin, 1936)
06 – Um Corpo que Cai (Alfred Hitchcock, 1958)
07 – O Poderoso Chefão (Francis Ford Coppola, 1972)
08 – 2001: Uma Odisséia no Espaço (Stanley Kubrick, 1968)
09- Central do Brasil (Walter Salles, 1998)
10 – Blade Runner (Ridley Scott, 1982)
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