Sunday, September 20, 2009

Fredric Jameson e a Pós-Modernidade em Jean-Luc Godard

Fredric Jameson (1934) é conhecido como o maior teórico da Pós-Modernidade, ao lado do francês Jean-François Lyotard. Americano, Marxista e estudioso de literatura comparada, o teórico, em seu livro A Cultura do Dinheiro – Ensaios sobre a Globalização, desnuda o caráter pós-moderno da obra do cineasta Jean-Luc Godard de maneira vigorosa e representativa.

Eu já havia feito um post sobre o diretor egresso da Nouvelle Vague, com comentários sobre alguns de seus filmes e um Top 15 Godard, mas senti-me compelido novamente a escrever mais um pouco sobre ele (que mesmo tendo perdido a posição de cineasta favorito para o Bergman, no meu caso, é, sem dúvida, o diretor mais importante da História, sob o viés da reconstrução e sintonia com o Espírito do Tempo hegeliano, em nossos dias).

Jameson, ao tratar de Godard, traz, antes, uma perspectiva das consequências visuais do retorno do estético após a Modernidade. Observa, por conseguinte, a esvaziação do conteúdo da imagem (ela por si só se basta, não deixando espaço, assim, para a narrativa, num viés pessimista e conectado com os ideais de Estrutura de Poder de Foucalt), trazendo à luz da discurssão a predominância dos chamados filmes de ação blockbusters (o excesso de narrativas violentas e sexuais é tratado como uma compensação pelo enfraquecimento conceitual destes).

“Os antigos enredos, que ainda desenvolviam e tornavam flexíveis a memória local do espectador, parecem ter sido substituídos por uma corrente sem fim de pretextos narrativos, nos quais apenas as experiências disponíveis do momento são valorizadas”.

A cultura de massa, através desse novo cinema, se apresenta como uma ferramenta de empacotar o passado e oferecê-lo ao espectador como um objeto de puro consumo  estético, alienando-o (caso predominante, inclusive, no fenômeno da Pós-Modernidade).

O chamado cinema autoral, por outro lado, em vias de desintegração, enfatiza a função da arte como um substituto da política. Ao falar de Godard, que aparece como um dos poucos autores-autorais com um senso extraordinário, segundo as próprias palavras do teórico, das novas tendências e idéias no ar, fazendo um produto que é exceção à regra, Jameson denota o saber-aliar estético do cineasta francês dos nossos dias com a esquecida densidade narrativa de antigamente.

Não tenho como não lembrar, dessa forma, das experiências pós-modernas, no sentido mais denso da palavra, fornecidas pelas obras Je vous Salut Marie, A Chinesa e o episódio O Amor, do filme Amor e Raiva, do cineasta, com todas suas riquezas experimental e narrativa levadas à excelência. Uma constatação artística de que vemos um dos últimos intelectuais dos nossos dias.

Jameson termina seu ensaio de maneira não menos cética: “Hoje, a imagem é a mercadoria, e é por isso que é inútil esperar dela uma negação da lógica da produção de mercadorias. É também por isso que toda beleza hoje é meretrícia, e que todo apelo a ela, no pseudo-esteticismo contemporâneo, é uma manobra ideológica, e não um recurso criativo”. Um final, no mínimo, nada animador, já que não é em todo cinema que se encontra um Godard.

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