Lembra dos livros-jogo do Ian Livingstone e Steve Jackson? O primeiro foi lançado na Inglaterra em 1982, chegando no Brasil na década de 90. O primeiro título foi O Feiticeiro da Montanha de Fogo, que eu lembro que cabulava a aula chata de matemática e ficava na biblioteca lendo/jogando. O conto é muito bem escrito e a cada página você tem a opção de seguir determinado caminho, tomar determinada ação, que continuava em uma outra página. Depois descobri que jogando com dados a emoção do jogo era outra, aí me apaixonei. Esse mesmo espírito de brincar com o acaso é que A Gruta tenta levar para o cinema e infelizmente não consegue.
O filme foi exibido na Biblioteca Temática, na Vila Mariana e faz parte do 4º Festival Curta Fantástico. Com direção do brasiliense premiado como melhor diretor de 2006 no Festival de Brasilia do Cinema Brasileiro, Filipe Gontijo trás o média-metragem A Gruta que segue os mesmos padrões dos saudosos livros-jogo. A história é do casal Luiza (Poli Pieratti) e Tomás (Carlos Henrique) que vão passar o final de semana na fazenda da família de Luiza, em Goiás. Lá eles são guiados por Tião (André Deca), o caseiro, até uma gruta onde encontram um porco que os segue até a casa. Esse porco exerce uma estranha influência sobre Tomás, e conforme a história se desenrola há pausas para a platéia, de posse de aparelhos de estatísticas (sabe aqueles que computam as votações da platéia de programas de auditório?), parecidos com um controle remoto, decidir qual caminho tomar, como por exemplo jogar com Luiza ou Tomás, ou então “Tião está batendo na porta, deseja atendê-lo?”. Um RPG na sala de cinema.
O problema que encontrei foi a quebra do clima. Por ser um dos primeiros a se aventurar no cinema com esse gênero (particularmente não conheço nenhum outro título como esse) há muitas coisas a aprender, como por exemplo, um número aceitável de intervenções para decidir que rumo a história tomará. Muitas vezes me senti perdido, tanto na história como nas opções, porque não me senti suficientemente imerso na história para poder decidir qual opção tomar. Sinto que o roteiro é bom, um thriller interessante, mas não houve troca. Creio que o filme seria mais feliz se as intervenções fossem melhor dosadas e em momentos mais decisivos, criando maior envolvimento com os personagens e cenário, desenvolvendo assim uma personalidade para cada um deles.
Pensando friamente não vejo nenhuma perspectiva positiva para esse gênero se dar bem no cinema, nem mesmo em pequenas salas, como foi o caso. Mas se os idealizadores se dedicarem a esses filmes-aventura para PC ou até mesmo iPhones, eles seriam muito mais felizes. Imaginem uma grande aventura com vários episódios? Fica a dica, vocês leram primeiro aqui, quero minha porcentagem.
Um ponto que merece destaque é que o filme está liberado por Creative Commons, ou seja, você pode copiá-lo, desde que não seja para fins comerciais. O projeto ainda contou com a ajuda do Fundo de Arte e da Cultura (FAC), o governo do Distrito Federal e a Big Box, uma rede local de supermercados.
O site do filme informa que logo disponibilizarão o filme jogo para download, além de distribuí-lo em DVDs para as pessoas jogarem com a família. Acho que esse é o caminho correto.
Assista ao trailer abaixo e fique de olho no site para ver a próxima exibição. Vale a pena, a experiência é bem interessante:
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