Thursday, January 28, 2010

Diário de uma Mostra - Parte V - A(s) Língua(s)

- Aqui, bom festival procê também.

Assim que  a atendente da lotérica, que fica aqui do lado do hotel,  se despediu de mim. Ela achou muito engraçado o fato de eu ter um livro na bolsa, achou isso um habito “de paulista”. Nem precisei falar da onde era para as pessoas da fila, quando o casal começou a falar comigo, a mulher logo falou com toda a sua lógica “vc é de são paulo, não?” num tipo de pergunta que mais tinha tom de constatação que outra coisa. Resignei-me ao fato de que meu sotaque me denuncia.

Nunca tinha pensado na maneira de falar paulista como algo tão marcado, mas, segundo outro mineiro com quem conversei (um diretor de curtas), paulista tem um ritmo meio cantado. Estranho, sempre achei isso dos mineiros. É, deve ser algo de meu ouvido! Ou não…

Aqui na Mostra o que é mais comum é se encontrar pessoas dos mais variados sotaques do país conversando juntas em alguma mesa dos restaurantezinhos. Na área de imprensa então, parece a torre de babel. Misturam-se cearenses, pernambucanos, bahianos, mineiros, paulistas, cariocas [e fluminenses], paranaenses, goianos e gaúchos. Além disso, temos ainda uns sotaques de franceses falando em ingles, ou em um francês tão rápido que, mesmo se soubesse a língua, não saberia decodificar. Um desses franceses me concedeu uma entrevista (Fabien Gaffez, faz parte de um dos olheiros da semana da crítica, do Festival de Cannes, a entrevista tá aqui), a chuva caía muito forte na parte de fora, foi um caos para entender o inglês dele com sotaque gravado no meu mp4.

Em uma das entrevistas coletivas, um desenhista de som – sim, existe essa profissão – foi para a frente falar sobre Terras, o documentário que tinha ajudado a produzir [junto de Maya Da Rin, outra pessoa com quem falei, veja aqui]. Ele começou a falar do universo sonoro do documentário, e de como tinha sido a pesquisa para tornar o filme o mais natural possível, e como ele mexeu com universos sonoros desconhecidos para desenhar os ritmos do filme. Pois bem, Tiradentes é assim para mim.

Podem falar como quiserem, e não entender algumas de minhas gírias. Eu mesma posso não entender muitas outras gírias, ou achar estranha a maneira como o ritmo mineiro desenha ondulações no ar. Mas, aqui,  por aqui, é como se todos falassem uma língua só, o cinema. E ela consegue conectar a todos.

[Via http://paullistania.wordpress.com]

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