Acaba de sair no Brasil o novo filme de Martin Scorsese, um dos mais importantes realizadores dos últimos 40 anos.
Apesar do reconhecimento monumental de hoje, sua trajetória foi mais difícil do que se imagina. Seu primeiro grande sucesso comercial veio apenas nos anos 90 com Cabo do Medo e, mesmo com todo a aclamação crítica que recebia desde os anos 70, Scorsese teve dificuldades para tocar seus projetos na década de 80.
Martin Scorsese faz parte da primeira geração de cineastas americanos oriundos de cursos de cinema em universidades. O cinema clássico já tinha pedido as contas, todos grandes aposentados ou em fim de carreira. Enquanto isso, o cinema europeu estava no auge com as cinematografias nacionais e as experimentações de linguagem.
Esta dupla influência é fundamental para entender o cinema da geração da virada dos anos 60 para os 70 que reergueu Hollywood, principalmente no caso de Scorsese, talvez aquele que materializou com mais intensidade a influência européia dentro do cinema americano.
O grande eixo de sua obra seja talvez a violência latente de seus personagens. Marcados por solidão e frustrações, a energia de vida dos personagens é deflagrada pela violência, seja no outro (Taxi Driver, Cabo do Medo, Caminhos Perigosos, Os Bons Companheiros, O Rei da Comédia), neles mesmos (A Última Tentação de Cristo, Vivendo no Limite) ou mesmo nos dois (Touro Indomável).
Robert DeNiro se tornou a grande encarnação da personagem de Scorsese. O misto de fragilidade com aspereza de sua fisionomia foi importante para que os flagelos da solidão do diretor pudessem aflorar. O ponto alto da parceria acontece em Touro Indomável onde a fragilidade violenta de DeNiro explode na tela e só amansa quando faz o movimento inverso, autoflagelando-se quando LaMotta engorda e tenta uma fracassada carreira como comediante.
O catolicismo e o submundo – principalmente a máfia – permeiam diversos de seus filmes em diferentes momentos da carreira. Muda o registro, que vai do metafórico, simbólico e chega ao mais mundano e inconseqüente nos anos 90. A máfia alcança seu ponto máximo na obra de Scorsese em Os Bons Companheiros, quando perde o glamour e vira motivo de piada escancarando a boçalidade desse tipo de criminoso. Nesse sentido, é o anti-Poderoso Chefão, ainda que sirva como complemento de representação a ele.
Outro fator importante de sua obra é a cinefilia. Scorsese talvez seja a pedra fundamental dos cineastas-cinéfilos e em menor ou maior grau, a história do cinema representa papel importante. Ela serve muitas vezes como recheio de uma segunda camada ou até uma terceira, é a instrumentalização fundamental em Scorsese, já que ele está sempre se reportando ao passado cinematográfico. Não que ele seja um pós-modernista. Contudo, Scorsese sempre mantém a história do cinema em uma das mãos como guia de referência para seu trabalho. A partir de Os Bons Companheiros, com seu final que retoma The Great Train Robbery, esse caráter cinéfilo ganha mais força e culmina, até o momento, em Os Infiltrados e no curta A Key to Reserva.
No longa com Leonardo DiCaprio, Scorsese parece mover-se de encontro às grandes histórias clássicas do cinema policial, principalmente o cinema B dos anos 40 e 50, mas com grandeza da Hollywood canônica de Hawks, Ford, Wyler, Vidor, Walsh. É seu filme mais perto de John Ford, onde todos os planos são feitos para significar muito além da composição e das plásticas, são centrados, recheados, grandiosos, completos. A arte do diretor disfarçada de história codificada sob o gênero policial. Nesse sentido é seu filme que mais deve ao cinema clássico. A Key to Reserva, nessa direção, é seu filme mais de emulação, uma brincadeira com a arte do cinema clássico e com o ofício do diretor. É o cinéfilo que fala cada vez mais alto.
Checklist Martin Scorsese
Esse é apenas uma referência (até para mim mesmo) filme a filme da obra do diertor americano, indo de * a *****
Quem Bate à Minha Porta (Who’s That Knocking at my Door? – 1967) – *
Street Scenes (1970) – Não vi
Boxcar Bertha (1972) – **
Caminhos Perigosos (Mean Streets – 1973) – ****
Italianamerican (1974) – Não vi
Alice Não Mora Mais Aqui (Alice Doesn’t Live Here Anymore – 1974) – **
Taxi Driver (1976) – *****
New York, New York (1977) – ***
O Último Concerto de Rock (The Last Waltz – 1978) – Não vi
American Boy – A Profile of Steven Prince (1978) – Não vi
Touro Indomável (Raging Bull – 1980) – *****
O Rei da Comédia (The King of Comedy – 1982) – ****
Depois de Horas (After Hours – 1985) – ****
A Cor do Dinheiro (The Color of Money – 1986) – ****
A Última Tentação de Cristo (The Last Temptation of Christ – 1988) – *****
Life Lessons (Episódio de Contos de Nova York – 1989) – ***
Os Bons Companheiros (Goodfellas – 1990) – *****
Cabo do Medo (Cape Fear – 1991) – ***
A Época de Inocência (The Age of Innocence – 1992) – Não vi
Cassino (Casino – 1995) – ****
Kundun (1997) – *
Il Mio Viaggio in Italia (1999) – Não vi
Vivendo no Limite (Bringing out the Dead – 1999) – ***
Gangues de Nova York (Gangs of New York – 2002) – ****
O Aviador (The Aviator – 2004) – **
No Direction Home (2005) – **
Os Infiltrados (The Departed – 2006) – ****
Shine a Light (2008) – Não vi
[Via http://raulla.wordpress.com]
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